Texto de Artur Roman (14/09/2015)

Amigos!

Agradeço muito as mensagens de felicitações pelo meu aniversário.

Gostaria de compartilhar estas reflexões com vcs:

Afinal, como estou aos 62 anos, completados hoje?

Sinto que estou emocionalmente mais estável. Dificilmente alguém me verá exalando euforia, tampouco mergulhado em desespero. Não me sinto mais conformado, apenas mais seletivo nos investimentos de minha atenção e energia. Estou preferindo os eventos que aquecem minha sensibilidade em vez daqueles que atiçam minha indignação.

Identifico em mim alguma dificuldade para compatibilizar os rompantes com as limitações, a imaginação com as possibilidades, o desejo com as condições, a vontade com a disponibilidade. Acho que isso é do envelhecer. É como se o corpo físico contivesse os impulsos anímicos. As dores eventuais estão demorando mais para passar, mas aumentou minha capacidade de suportá-las. Por outro lado, os prazeres também duram mais por conta do refinamento da sensibilidade.

Com o passar dos anos, passamos a valorizar mais o sabor do que o prato cheio. E descobrimos prazer em encontrar o substantivo que dispensa o adjetivo, em curtir o tempero que apura o gosto, em escolher o verbo que prescinde do advérbio, em sorver o cálice com calma em vez de consumir a garrafa com ansiedade, em colocar reticências no lugar do ponto…

Será que nos tornamos mais sábios com o tempo? Tenho dúvidas…Com o passar dos anos, sinto que meus desconhecimentos aumentam, ainda que diminua minha preocupação com essa ignorância avolumante.

Não mudei meus objetivos na vida. Na verdade, desisti de alguns e alterei as estratégias para atingir os que mantive. Só vale a pena correr atrás dos sonhos se a corrida for prazerosa. Afinal, a grande maioria das pessoas nunca chega nem perto de seus sonhos.

Tenho observado que os anos de vida deixam algumas pessoas mais amargas e outras mais doces. Também algumas perdem o sabor e outras ganham tempero. Tenho lido e ouvido tantas coisas horríveis de pessoas profundas, que acabei me dando conta de que pessoas superficiais normalmente são boas companhias. E descobri que, pieguices, quando nos permitimos acolhê-las sem crítica, se tornam sublimes e acariciam nosso coração.

A vida fica mais leve quando descobrimos a virtude de não ter opinião definitiva sobre as coisas. E ficamos menos ansiosos quando desistimos de tentar fazer coincidir o que somos com o que gostaríamos de ser, ou com o que os outros pensam que somos, ou gostariam que fôssemos.

Penso que a diferença entre felicidade e infelicidade está menos naquilo que conquistamos e mais na qualidade da relação que desenvolvemos com os outros na busca para preencher o vazio existencial que cada um carrega. Concluí, há algum tempo, que a paixão não cega. Ela nos permite enxergar o que os desapaixonados nunca conseguirão ver.

Chega um momento em que a gente tem que parar de abrir gavetas, pois nelas só encontraremos lembranças e ácaros. Melhor abrir janelas e portas. Lá fora, o mundo, a vida.

A experiência de viver o presente tem sido muito rica. O que está me incomodando mesmo ao 62 anos é que não consigo mais ler (nem escrever) sem óculos…

Um forte abraço

Artur Roman