A ABELHA E A ROSA

A ABELHA E A ROSA

 

Cleómenes Campos

 

Balouçava-se ao vento uma rosa vermelha,

em que um raio de sol punha um reflexo louro;

viu-a, pelo perfume, uma pequena abelha,

e começou a lhe sugar o pólen de ouro.

 

As abelhas, irmãs aladas das mulheres,

são, todavia, insatisfeitas e curiosas.

Ora, eu tinha num vaso uns botões rosicleres,

que, por ser de papel, nunca seriam rosas.

 

Ela, porém, supões que fossem verdadeiras;

e, deixando o jardim, onde havia outras flores,

voou sem ver por sobre todos os canteiros,

na atração singular dos botões rosicores.

 

Minha janela estava aberta por acaso.

Ela entrou a zumbir. Mas fechei-a nessa hora.

E a pobre, assim que viu a mentira do vaso,

pensou na linda flor que deixara lá fora.

 

Foi-se à vidraça a olhar; tentou fugir… e nada:

estava presa em minha sala silenciosa.

E, dois dias depois, achei-a inanimada,

na mesma posição, inda fitando a rosa.

 

Ó alma, que a ambição vai levando à cegueira:

não te esqueças da abelha ambiciosa e iludida!

– Não deixes nunca a tua rosa verdadeira

pelos falsos botões que encontrares na vida!