REZA POR MIM
“REZA POR MIM”
Artigo publicado no ABC de Sevilha, de autoria de Miguel Ángel Robles
Não é comum que um artigo dedicado estritamente à oração ocupe uma página inteira na seção de opinião de um grande jornal. Mas foi isso que aconteceu no ABC de Sevilha com o texto assinado por Miguel Ángel Robles, intitulado “Reza por mim”, que rapidamente se tornou viral.
Leia sem falta. É de uma beleza imensa!
Rezar é um dos momentos de maior calma do dia e, no meu caso, acontece nas primeiras horas da manhã, pouco depois das seis, com a água quente do chuveiro caindo devagar sobre os ombros.
Rezar é uma fotografia em sépia, um retorno à casa dos avós e ao tempo sem tempo da infância.
É um Pai-Nosso dito a Deus para que ajude nas provas. É o abrigo contra o frio e o silêncio acolhedor. Rezar é ter memória.
Rezar é o que vem antes ou depois do trabalho, mas nunca o substitui.
É o único que se pode fazer quando já não há mais nada a ser feito. É a forma de compromisso de quem não tem outro meio, como quando rezamos por um doente prestes a ser operado e já está tudo nas mãos do cirurgião (e de Deus).
Rezar faz milagres, consola quem reza e aquele por quem se reza. Rezar nunca é inútil, porque sempre conforta.
Rezar é dizer “rezarei por você” e também “reza por mim”. É, portanto, o contrário da vaidade.
Rezar é aceitar nossas limitações. É aprender a resignar-se quando o que poderia ter sido não foi. É viver sem rancor, aprender a esquecer, aceitar a derrota com dignidade e celebrar a vitória com humildade.
Rezar é buscar forças quando não se tem e confiar que as coisas serão como devem ser.
Rezar é otimismo, é não dar nada por perdido, é lutar e resistir. Rezar é fragilidade e firmeza.
Rezar é desligar e apagar o celular. É introspecção na sociedade do exibicionismo. É relaxar e acalmar os nervos. É preparar-se mentalmente para o que está por vir. Não é apenas buscar coragem, mas também inspiração, a ideia, o enfoque, a luz, a clareira no meio da escuridão.
Rezar é raciocinar, ainda que pareça o mais irracional. É a mente funcionando como num jogo de tênis: planejando, antecipando as jogadas. É abstração em tempos de materialismo. É pausa em um mundo acelerado. É calma quando tudo é ansiedade. E é tédio na ditadura do entretenimento.
Rezar é uma forma extrema de independência.
Rezar é um prazer escondido, reservado para a intimidade. Um ato privado, quase em segredo, que, quando partilhado, exige muita confiança.
Rezar é uma declaração de amor pela pessoa que levamos em nossas orações. É derramar carinho sobre os que mais amamos e sentir o carinho dos que rezam por nós.
Rezar é ter outros em suas orações e estar nas orações de outros – o que é muito mais do que estar apenas em sua memória.
Rezar, e sobretudo ter alguém que reze por você, é a maior aspiração que se pode ter na vida. Um privilégio imenso. É amar tanto alguém a ponto de rezar por ele, e ser amado tanto a ponto de que rezem por você.
Haverá maior orgulho? Existirá maior plenitude do que saber que uma mãe, um irmão, um filho ou um amigo deseja que Deus te proteja, te dê saúde, te ilumine, te ajude, te acompanhe e esteja sempre contigo?
Rezar é ter fé. Fé na vida, nas pessoas, nos amigos, nos filhos, nos pais, em Deus.
Rezar é um superpoder que nos predispõe para o bem.
Rezar é acreditar e ser praticante de um mundo melhor.